Tecnologias de Processamento

Pendura de aves


Por Fabio Nunes em 24/04/2019

A pendura, uma das tarefas mais importantes do abatedouro, é desenvolvida com base em um tripé operacional. A missão de dar início ao abate e manter seu desempenho à plena capacidade ao longo dos turnos está nas mãos de uma equipe pequena que trabalha em um ambiente agressivo, a um ritmo intenso e submetida a um alto grau de exigência física. As perfeitas condições operacionais do maquinário são um requisito-chave para que se assegure o funcionamento correto e produtivo do setor. Finalmente, o manejo adequado da matéria-prima, que determinará, de forma direta e indireta, a consistência dos processos subsequentes, a apresentação das carcaças e a qualidade e rendimento dos produtos, é de suma importância para que o setor cumpra a sua missão. 

A pendura exige o contato direto e permanente com as aves vivas. Essa estreita interação, somada à inalação de poeira e o contato com o excremento destas, origina um ambiente de trabalho agressivo, afetando o bem-estar e a motivação dos responsáveis por este processo, podendo, até mesmo, provocar doenças. Para melhorar as condições do ambiente de trabalho e proteger a saúde dos penduradores, a empresa deve instalar sistemas de ventilação que diminuam a exposição da equipe à poeira por meio da simultânea troca do ar contaminado por ar fresco e limpo. Esses sistemas devem ser calculados e projetados por profissionais especializados, que detenham o conhecimento necessário e que sejam capazes de fornecer soluções na medida exata das necessidades de cada frigorífico. 

Para que o trabalho diário seja cômodo e produtivo, não provocando danos à saúde dos penduradores a longo prazo, a empresa deve auditar o setor e os métodos de trabalho a fim de detectar se há riscos presentes. Se os há, deve atuar prontamente para eliminá-los ou, pelo menos, atenuá-los. Dentre as ações imediatas que podem ser tomadas, estão:

  • harmonizar o conjunto pendurador-transportador-cadeia: uma exigência fundamental para diminuir a extensão e intensidade dos movimentos realizados pelos penduradores durante o trabalho, gerando menos desgaste físico e mais conforto;
  • dimensionar a equipe com base na velocidade de abate e peso vivo: uma equipe corretamente dimensionada trabalha a um ritmo confortável, sofre menos desgaste físico e realiza uma pendura mais precisa, consistente e cuidadosa;
  • adotar o rodízio de funções e ginástica laboral: o rodízio de funções transfere, periodicamente, o operador a uma função que requer o uso de um grupo muscular e de articulações distintos às da atividade anterior; a ginástica laboral oferece minutos de relaxamento e alongamento dos principais grupos musculares e articulações;
  • uso de plataformas ajustáveis para nivelar a altura dos penduradores: corrige as diferenças na estatura dos penduradores, otimizando os resultados;
  • instalar um suporte no qual os funcionários possam se sentar ou se apoiar durante o trabalho: permite que eles descansem certos grupos musculares, melhorando a circulação sanguínea e abrandando a fadiga;
  • fornecer palmilhas para aumentar o conforto do calçado: proporcionam um efeito “almofada” aos calçados e distribuem a pressão dos pés em uma área mais ampla;
  • utilizar tapetes antifadiga: traz um efeito parecido com o das palmilhas. 

A pendura deve assegurar aos frangos os mesmos cuidados recebidos em seu manejo nas etapas que antecederam sua chegada ao abatedouro, a fim de preservar todo o potencial de venda da matéria-prima e otimizar o desempenho comercial e econômico da planta.

A tudo o que foi mencionado anteriormente, é fundamental agregar um bom supervisor de pendura, um elemento-chave no asseguramento do ótimo desempenho e êxito do trabalho diário. O supervisor deve ser o primeiro a chegar para garantir que tudo esteja pronto e em boas condições operacionais antes do início da pendura, para receber sua equipe, agradecer-lhe por sua presença e desejar-lhe um bom trabalho; e para checar o “livro de registro” do setor onde constam as informações relativas ao turno que o antecedeu e dar início ao turno na hora estabelecida.

Sua função exige conhecimentos do processo de pendura, dos principais componentes e suas variáveis e de como elas interagem entre si. Além disso, sua função exige a habilidade de capacitar, agrupar, motivar e conduzir sua equipe para alcançar os objetivos diários do trabalho, saber reconhecer os êxitos, bem como perceber e compreender as falhas e ocupar-se de suas necessidades. 

Ao longo de seu turno, ele precisará estar presente, atento e se movimentando pelo setor a fim de estar a par de todo o seu entorno, uma técnica conhecida como “management by walking around” (tradução livre: “gerenciamento por observação”). E, quando precisar intervir no processo, deve raciocinar holisticamente e atuar, sempre que possível, preventivamente. Ao final do turno, deve ser, também, o último a ir embora e somente após se despedir de sua equipe e agradecer-lhe pela presença e trabalho, de inspecionar o setor, preencher o “livro de registros” com os eventos e anomalias do seu turno para o conhecimento de todos e, finalmente, encerrar o dia – ou, então, transferir o turno ao próximo supervisor. 

Embora a pendura seja uma operação muito delicada, seu êxito depende da interação dinâmica e constante de diferentes fatores e variáveis. Para assegurar ao trabalho consistência operacional, confiabilidade e melhores resultados, a empresa precisa harmonizar essa interação no trabalho diário a fim de que este cumpra com o objetivo de garantir o bem-estar e segurança da equipe e, ao mesmo tempo, a integridade da matéria-prima.

Confira aqui a íntegra desta matéria na mais recente edição da CarneTec

Conheça o autor

Fabio G. Nunes é engenheiro químico formado pela Universidade Federal do Paraná e possui mais de 20 anos de experiência no setor de processamento de aves. Ele é consultor para empresas avícolas no Brasil, América Latina e Ásia. Fabio ajudou a trazer várias inovações ao Brasil, tais como o desenvolvimento do primeiro sistema de atordoamento a gás e o primeiro sistema de estimulação elétrica em escala comercial. E-mail: fabio.g.nunes@hotmail.com   


 
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